Um Rouxinol no Lugar do Sol
Este rouxinol é um novo amigo do Ventor, no Lugar do Sol.
Cheguei, dei a volta à viatura e encostei. Enquanto elas saíram do carro e entraram em casa, eu permaneci de janelas abertas a escutar toda aquela sinfonia primaveril dos meus amigos de sempre mas, enquanto ouvia todos aqueles sons maravilhosos a que já me tinha habituado, outro som ainda mais encantador, todo cheio de voltas e reviravoltas, mais me encantava ainda.
Como não estava habituado a ouvir aquele som, achei que tinham comprado alguma maquineta para imitar o belo canto do rouxinol. Eu olhava para o portão, para o telhado, para as paredes da casa, para os arbustos, para as oliveiras velhotas do Alqueva, ou algures, e nada! Nem maquineta, nem pássaro!
Por fim, saí do carro, arrumei as minhas coisas, levei-as para casa, peguei na máquina e lá fui à procura do encantador pássaro, um novo ilustre desconhecido por ali.
Por fim, depois de me dirigir por ali, à voltas, a tentar observar o belo cantador, disse para os meus botões: "estamos tramados". E estava! Eu dirigia-me para o local de onde vinha o cântico e, de repente, o cântico aparecia-me de outro lado. Os arbustos, as flores, as árvores, não me permitiam ver o pássaro voar.
Por fim, às voltas por aqui e por ali, por ali e por aqui, sempre atrás do cântico do meu novo amigo, decidi ir para a estrada e seguir por ali abaixo, desafiar os galos e os gansos dos vizinhos do Lugar do Sol e também, ver os coelhos fugirem para o sítio onde o rouxinol, sempre virado para mim, continuava a cantar. Caminhei para a fonte suja de lismos a ver se via o tritão e, do meio daquele entulho, lá do fundo do tanque, veio a voz do tritão: "Ventor, se calares aquele rouxinol, apareço-te sempre que tu venhas visitar o Lugar do Sol"!
Uma bela serenata a meias com outro rouxinol, para alegrarem o Ventor
Chamaram-me para almoçar e, o nosso almoço, teve a companhia da serenata do rouxinol. A seguir ao almoço, fui dar um passeio e o rouxinol continuou a meu lado de arbusto em arbusto, sempre a cantar. Quando iniciei a caminhada no campo, ia tropeçando numa perdiz que saiu dos meus pés e que, depois de me dizer que não podia perder tempo comigo que ia levar comer para a parceira que estava no ninho, vi ela voar rente aos arbustos e quase fazia o penteado ao rouxinol. Ainda ouvi ela gritar, ao passar pelo rouxinol: "se este arranja uma namorada e fica por aqui, o Lugar do Sol está perdido, Ventor"!
Isto para mim, foi mais uma prova de que nunca ninguém está bem, nem os meus amigos do Lugar do Sol pois acham que já têm por lá cantoria a mais. Pareceu-me que, contentes a valer, só eu e o rouxinol!